
APANHADOS NA REDE
Facebook. Ou só Face, para os íntimos. Uma palavra praticamente desconhecida há uma década é hoje sinónimo de socialização para perto de 1400 milhões de utilizadores. Curiosamente, uma parcela significativa desde público desconhece a Internet, ou seja, a única relação com a comunicação digital passa pelo FB.
11% dos Indonésios, por exemplo, que dizem usar o FB, dizem também que não usam a Internet. Para alguns milhões de pessoas, o primeiro e único contato com a Internet é, hoje, através da rede social Facebook. Que aliás não se fica por aqui. Em 2012, a empresa do mais jovem "self-made" milionário de sempre, Mark Zuckerberg, comprou o Instagram, uma aplicação que permite a partilha de fotografias, e mais recentemente videos, entre os amigos. Extremamente popular, o Instagram reúne mais de 150 milhões de utilizadores ativos. E depois há o Twitter, o SMS da internet, que permite mandar e receber mensagens partilhadas de no máximo 140 caracteres. Também definido como um micro-blog, tem mais de 500 milhões de utilizadores que escrevem pequenas notícias, mensagens ou ideias, na esperança de que elas sejam interessantes, curiosas, engraçadas ou úteis para alguém. Esse alguém passa a ser um seguidor, enquanto o seguido apresentar para ele algum interesse. Num mundo que sofre agudamente de déficit de atenção, os 140 caracteres lidos num piscar de olhos, e escritos com habilidade e poder de síntese, são a fórmula de sucesso desta rede social que junta desde presidentes a donas de casa, de estrelas de cinema a cidadãos anónimos. É também a explorar assuntos interessantes, mas exclusivamente com um caráter visual, ou seja fotografias, imagens ou desenhos, páginas ou sites, que vive outra rede social de sucesso: o Pinterest. Na verdade, pouco mais é do que um mural interativo, onde o utilizador junta as imagens e os links de que gosta, como faria num quadro de cortiça, com a diferença que pode organizá-los por coleções e partilhá-los com o mundo. Mundo esse que, obviamente, segue os murais mais interessantes em busca de novidades diárias. Finalmente, para abreviar, temos o YouTube que todos conhecem e que, sem ser exatamente uma rede social, é um canal quase infinito de partilha de videos que nos interessa particularmente em termos empresariais. Comprado pelo Google aos seus fundadores, apenas uma ano e meio após a sua fundação por 1,6 mil milhões de dólares, o que revela o valor desta ideia, o Youtube carrega mais videos em 60 dias do que os 3 maiores canais de televisão americanos, em conjunto, carregaram nos últimos 60 anos. E, por agora, vamos ficar por aqui. Estas 5 são apenas algumas das redes sociais mais visitadas na lista de mais de duas centenas consideradas hoje as mais populares. Mas que podem não existir amanhã. Porque se há algo que caracteriza os tempos acelerados em que vivemos, é a absoluta volatilidade das modas. E a frenética e constante alteração das normas, ditada pela evolução tecnológica, obriga-nos a reaprender constantemente os mecanismos de comunicação, sob pena de ficarmos a falar sozinhos no deserto. A internet e as redes sociais que a utilizam, não representaram apenas uma revolução social, comercial e financeira. Foram um asteróide que chocou com a terra e pulverizou, entre muitas outras coisas, todas as ferramentas de marketing tal como eram conhecidas até ao final do século XX. As repercussões deste gigantesco impacto são praticamente impossíveis de avaliar. Não terminaram ainda, nem vão terminar nunca, uma vez que as alterações de ontem abrem a porta às de amanhã, numa espiral de progressão geométrica, com velocidade e abrangência crescentes. A informação multiplicou-se ao infinito e o seu alcance social não conhece praticamente fronteiras culturais, religiosas, étnicas ou económicas. Pela primeira vez na história da humanidade, todos têm acesso a tudo, numa democratização do conhecimento absolutamente impensável se recuarmos há apenas duas décadas atrás. O grande desafio é saber lidar com essa vertigem de informação sem se afogar no seu interior. A rede, que é a tradução literal de "net", corre realmente o risco de se tornar uma teia, uma tentadora armadilha que acena com o conhecimento absoluto e a comunicação ilimitada mas oferece em troca um labirinto infinito, embriagante e paralisador. Como todas as revoluções, esta traz consigo grandes riscos e oportunidades para os seus utilizadores, sejam eles indivíduos em busca de lazer, comércio ou informação, sejam eles empresas em busca de incremento nos negócios e crescimento na lucratividade, que é que nos traz aqui. E o mercado está definitivamente a mudar a grande velocidade. Em 2014, só nos Estados Unidos, o número de lares que passaram a incluir programas de televisão via internet no lazer ou informação domésticos, cresceu de 28 para 45%, um salto de 17 pontos percentuais. Não é necessária uma bola de cristal ou dons mediúnicos para prever a extinção da TV tradicional em menos de uma década, ou pelo menos a sua evolução para um híbrido criativo que consiga continuar a captar a atenção e a preferência de parte do mercado. A imprensa clássica arrasta-se na luta pela sobrevivência e todos os grandes títulos já migraram parcial ou radicalmente para a internet. A rádio, por enquanto, tem encontrado um espaço de sobrevivência: o intervalo matinal ou crepuscular em que os habitantes das periferias das grandes metrópoles estão fechados nos seus carros nos engarrafamentos gigantescos a caminho do trabalho ou de volta a casa. Mas também isto vai mudar com a implementação do tele-trabalho e a descentralização e o êxodo das grandes metrópoles em busca de uma melhor qualidade de vida. E mesmo que não mudasse por essa via, mudaria pela inevitável expansão tecnológica e universalização das ligações wi-fi (já há várias cidades em todo o mundo praticamente cobertas com ligações gratuitas, em breve teremos países) ou económicos pacotes 4G de tráfego ilimitado. Nos lançamentos deste ano, muitos carros já não incluem o rádio nos seus novos modelos, mas apenas um suporte e ligações para o smartphone do motorista. A rádio, ou qualquer outro canal audiovisual de lazer ou informação internacional, passará a ser disponibilizada digitalmente nos quatro cantos do planeta. Tudo isto para dizer o quê? Que o marketing se transferiu inexoravelmente para dentro da net. A expressão marketing digital tornou-se obsoleta e redundante. O marketing é já, hoje em dia, fundamentalmente digital. Pela simples razão que as empresas, se querem comunicar com os seus clientes, têm que estar onde eles estão. E eles estão nas redes digitais, a ler as notícias, a ver videos ou séries de ficção, a ouvir música, a pesquisar receitas de culinária ou a comprar roupa e medicamentos, a jogar em casinos ou a fazer política, a comunicar com as suas redes de amigos ou a ver um match em direto, a coscuvilhar ou simplesmente a passar o tempo. O Mundo migrou para o digital. As empresas que querem sobreviver e prosperar não podem hesitar em fazer o mesmo. Mas não o devem fazer de qualquer forma e a qualquer custo. A aparente facilidade e economia da comunicação através das ferramentas digitais é verdadeiramente enganosa e o amadorismo na sua utilização tem criado imensos estragos na imagem institucional das empresas, até dentro de corporações gigantescas. No próximo artigo vamos ver exemplos, analisar os principais riscos das redes sociais para as marcas, e relacionar as extraordinárias oportunidades que o digital abriu, sobretudo para as pequenas empresas. Até lá, aproveite para ir espreitar o que a sua concorrência anda a fazer no Face, no Twitter ou no YouTube. Boa espionagem!